Melhor acordar

Enganosas e desenfreadas fantasias da insônia, noites mal dormidas, ansiedade, tempo a ganhar, ressacas não curadas, amizades consolidadas, outras perdidas, ou desprendidas, ou pretendidas, amores resolvidos, amores mal resolvidos, cicatrizes, sentimentos desperdiçados pelo caminho. Vida maltrapilha, mas só por hoje. Ou só por ontem. Ou só até amanhã. Saudade que arrebata, lágrimas não contidas que se esparramam pelo lençol, gosto de sal, um barulho nas entranhas que ficou mudo, outro ensurdecedor, mas só quem ouve é você, o que é? não sei, não sabemos, suor que escorre da testa até pingar no asfalto. Acabou o suor. Mas não acabou o calor. Frente fria. Nariz entupido. Tosse. Óleo de banho para vencer. Vinagre que venceu. Bolacha que venceu. Castanha que murchou. Que vença, que murche, que exploda. Nunca usei botas de cano alto. Nunca usei sapato de bico fino. Nunca quis uma bolsa Chanel ou um sapato Louboutin. Nunca consegui brincar num pogobol, muito menos num bambolê. Nunca gostei de cintilante. Mas já gostei de cigarro, de patins, de torresmo e de carne. E de pular corda. E de pinga com mel. Um suspiro. Uma decisão. Maravilha. Para e veja a banda passar. Não quero. Quero ser a própria banda. Uma big band de jazz. Todos os instrumentos numa só canção. Juntinhos e afinados, mesmo que desafine por instantes. Ou por horas. Ou por dias. E até anos. Um rojão que explode em festa de Revéillon. Um rojão silencioso. Felicidade, euforia. Tristeza. Bipolaridade. Questões. Uma ruga que nasce. Uma marca de expressão que agora é sua. Um fio de cabelo branco. Um número de roupa maior. Uma saia mais curta. Camisetas de banda. All Star. Maquiagem. Tatuagem. Reencontros que são seus. E meus. Ou de ninguém. Silêncio e astúcia. Gente de verdade. Uma decisão. Uma só. E pronto. Bum. Turbilhão. Noites mal dormidas, suores noturnos. Melhor acordar.